A primeira vez que ouvi falar de Ai Weiwei foi há uma ano atrás, quando ele desapareceu. Veio-se a saber que o desaparecimento tinha sido uma detenção feita pelo governo chinês com motivos pouco claros: segundo o próprio governo, o artista foi detido por suspeita de fraude fiscal e actos de pornografia (por ter posado nu para uma fotografia com quatro mulheres), segundo o desenrolar dos acontecimentos, é mais provável que a detenção tenha sido feita por motivos políticos. Ai Weiwei é um artista transversal que se preocupa com o seu trabalho, unicamente com o seu trabalho e o impacto social que ele pode ter e não com tudo o demais que representa "ser um artista". Os seus trabalhos têm o poder maravilhoso dos espectáculos ao vivo - são experiências.
Com uma história de vida absolutamente marcada pelo regime comunista, Ai Weiwei viveu quase 20 em exilio já que o seu pai, poeta, tinha sido banido por escrever um conto considerado anti-regime. Só com a morte de Mao Tse Tung, em 1976, é que a sua familia pôde voltar a Pequim. Weiwei foi para Nova Iorque onde experienciou a liberdade de expressão civil e artística, antes de voltar por causa do seu pai à sua cidade natal e aí dar início a uma carreira artística explicitamente política. Trabalha sobre conceitos de tradição permitindo-nos uma reflexão muito mais abrangente do que o olhar passivo de um espectador. Com a internet, tem vindo a criar movimentos civícos, artísticos e políticos - a criatividade é uma ferramenta para mudar a sociedade, questiona a tradição para olhar em frente, destrói símbolos para poder reconstruir melhor, no sentido de ver de maneira diferente o significado para além do símbolo.
Os seus trabalhos com mobília da dinastia Ming (que são destruídos e reconstruídos na perfeição, com as mesmas técnicas usadas desde o séc. XIV) ou porcelana imperial, são exemplos claros: a função, o símbolo e a mestria de tradição artesanal utilizadas de forma a questionar a sua própria definição e canons. O projecto das sementes de girassol, apresentado em 2011 na Tate Modern de Londres é provavelmente o exemplo mais conhecido e dos maiores projectos levados a cabo: 100 milhões de sementes de porcelana feita por 16.000 artesãos durante cerca de 2 anos e meio.

A semana passada, para comemorar o aniversário da sua detenção, o artista abriu um canal no seu site (que foi em poucas horas "apagado" pelas autoridades) onde se podia ver o que se passava dentro de cada divisão da sua casa. Uma mensagem ao governo chinês que o mantém sob observação apertada: o uso da vigilância e da tecnologia não tem dono e pode ser utilizada de inúmeras maneiras. Ali, na China controladora, este homem conseguiu com um computador e um acesso muito limitado à internet criar uma revolução cultural, criar movimentos cívicos, mover massas, empregar pessoas, mudar a maneira como pensamos o mundo. Faz-nos pensar nas possibilidades do nosso "mundo-livre", não faz?
Na galeria Magasin3, em Estocolmo está agora patente uma exposição deste senhor, para quem não pode dar um saltinho até lá, pode sempre usar o meio favorito de Ai Weiwei e ver quase tudo aqui. E já agora, aproveitem para ver este documentário da BBC, são 50 minutos bem empregues.