O filme neste post é do ano passado e é o que vi até hoje que explica melhor e de forma mais simples, o impacto que a tecnologia está a ter na criatividade e na cultura (indústria, produto… tudo!). Chama-se PressPausePlay e é da produtora sueca House of Radon. A democratização do acesso à cultura, à criação e à sua propagação a escalas planetárias, veio simultaneamente dar espaço a todos e inundar o mundo de artistas, criadores, pensadores, tendências… e nós não temos tempo para consumir tudo, quanto mais para escolher, filtrar, e separar o joio do trigo.
A questão que nos levanta o documentário é que a democratização, neste caso pode querer dizer banalização. Absolutamente banalizada está a ideia de que todos podemos ser artistas sem sair de casa. Para ver um espectáculo já não é preciso procurar o bilhete, ficar na fila, pagar, sair de casa no dia do espectáculo (e lidar com tudo o que isso implica), ir até à sala, desligar o telemóvel, ficar incontactável e ver. Podemos ligar-nos ao youtube e ver, sem pagar e sem sair da cadeira – é de facto tão simples como isto.
As implicações económicas são enormes, claro, a sobrevivência dos profissionais dos espectáculos performativos está em causa, sim, mas estou certa que este debate, esta agitação, esta transformação, vai encontrar novos modelos de sobrevivência. Se calhar não os que nos agradam mais ou com a rapidez que nos convém, mas essas novas formas já estão a aparecer e vão certamente evoluir rapidamente para caminhos que ultrapassam a nossa capacidade de previsibilidade.
A questão que me parece mais interessante é ver como tudo isto afecta de facto a criação artística. Quando se pode aprender quase tudo em casa, em frente a um computador, desenvolvem-se capacidades técnicas a uma velocidade alucinante. Diz-se que um jovem, até chegar à Universidade passa hoje em dia uma média de 20mil horas na internet e outras 10mil a jogar vídeo-jogos. 30 mil horas gastas de uma forma fácil, sem esforço, na companhia da tecnoligia. Disso se fala também neste comentário: quando um jovem de 17 anos chega hoje a uma escola de cinema provavelmente terá mais a ensinar ao seu professor que o inverso – a nível técnico, bem visto! Porque no fundo, embora esteja conectado 24horas por dia com o “mundo”, provavelmente esse jovem sempre trabalhou sozinho ou com o vizinho do lado e não faz a mínima ideia do que é trabalhar com uma equipa, fazer concessões, ouvir os outros, construir projectos viáveis e sobreviver artística e financeiramente numa sociedade cheia de pessoas como ele. O ensino artístico hoje será então o ensino social no sentido em que o que se ensina de facto é a comunicar! Na era da banalização da tecnologia temos de ensinar as pessoas a comunicar umas com as outras, cara a cara, sem monitores ou cabos pelo caminho, dando um novo sentido à própria definição institucionalizada de ensino.
Apesar de todos os avanços, embora a indústria cultural possa sobreviver e desenvolver-se (e tem-no feito) dentro do seu próprio mundo, quando falamos de espectáculos ao vivo, as coisas mudam. Pode ser que essa força do espectáculo ao vivo seja a porta para outras soluções, parece ser o último “reduto”, o que ainda não foi tão drasticamente arrasado pelo novo mercado tecnológico, do qual tem obtido mais proveito que prejuízo. Mas também aqui voltamos ao mesmo, o espectáculo ao vivo continua a “funcionar” porque é uma experiência sensorial partilhada ou como diria a senhora entrevistada no filme “you go out of your mind… you connect!”.
Links interessantes aqui mencionionados:
Ólafur Arnalds (para os que fãs: estará dia 12 de Março no Apolo em Barcelona)
Obrigada Luciana Batista por me ter passado o link deste vídeo