terça-feira, 10 de abril de 2012

ai weiwei - a arte enquanto politica ou a experiência como espelho da acção


A primeira vez que ouvi falar de Ai Weiwei foi há uma ano atrás, quando ele desapareceu. Veio-se a saber que o desaparecimento tinha sido uma detenção feita pelo governo chinês com motivos pouco claros: segundo o próprio governo, o artista foi detido por suspeita de fraude fiscal e actos de pornografia (por ter posado nu para uma fotografia com quatro mulheres), segundo o desenrolar dos acontecimentos, é mais provável que a detenção tenha sido feita por motivos políticos. Ai Weiwei é um artista transversal que se preocupa com o seu trabalho, unicamente com o seu trabalho e o impacto social que ele pode ter e não com tudo o demais que representa "ser um artista". Os seus trabalhos têm o poder maravilhoso dos espectáculos ao vivo - são experiências.
         
Com uma história de vida absolutamente marcada pelo regime comunista, Ai Weiwei viveu quase 20 em exilio já que o seu pai, poeta, tinha sido banido por escrever um conto considerado anti-regime. Só com a morte de Mao Tse Tung, em 1976, é que a sua familia pôde voltar a Pequim. Weiwei foi para Nova Iorque onde experienciou a liberdade de expressão civil e artística, antes de voltar por causa do seu pai à sua cidade natal e aí dar início a uma carreira artística explicitamente política. Trabalha sobre conceitos de tradição permitindo-nos uma reflexão muito mais abrangente do que o olhar passivo de um espectador. Com a internet, tem vindo a criar movimentos civícos, artísticos e políticos - a criatividade é uma ferramenta para mudar a sociedade,  questiona a tradição para olhar em frente, destrói símbolos para poder reconstruir melhor, no sentido de ver de maneira diferente o significado para além do símbolo.



Os seus trabalhos com mobília da dinastia Ming (que são destruídos e reconstruídos na perfeição, com as mesmas técnicas usadas desde o séc. XIV) ou porcelana imperial, são exemplos claros: a função, o símbolo e a mestria de tradição artesanal utilizadas de forma a questionar a sua própria definição e canons. O projecto das sementes de girassol, apresentado em 2011 na Tate Modern de Londres é provavelmente o exemplo mais conhecido e dos maiores projectos levados a cabo: 100 milhões de sementes de porcelana feita por 16.000 artesãos durante cerca de 2 anos e meio.


O ano passado, o desaparecimento / detenção de Ai Weiwei provocou uma reacção mundial das instituições de arte comtemporânea. Por todo o lado se reinvidicava a sua libertação num movimento único em prol da liberdade de expressão. Sem qualquer apelo politico ou organização internacional, diferentes países com diferentes visões, se uniam num movimento claramente politico. Ai Weiwei diz que esse é o poder da comunicação de da internet - unir as pessoas, mudar o mundo.
A semana passada, para comemorar o aniversário da sua detenção, o artista abriu um canal no seu site (que foi em poucas horas "apagado" pelas autoridades) onde se podia ver o que se passava dentro de cada divisão da sua casa. Uma mensagem ao governo chinês que o mantém sob observação apertada: o uso da vigilância e da tecnologia não tem dono e pode ser utilizada de inúmeras maneiras. Ali, na China controladora, este homem conseguiu com um computador e um acesso muito limitado à internet criar uma revolução cultural, criar movimentos cívicos, mover massas, empregar pessoas, mudar a maneira como pensamos o mundo. Faz-nos pensar nas possibilidades do nosso "mundo-livre", não faz?


Na galeria Magasin3, em Estocolmo está agora patente uma exposição deste senhor, para quem não pode dar um saltinho até lá, pode sempre usar o meio favorito de Ai Weiwei e ver quase tudo aqui. E já agora, aproveitem para ver este documentário da BBC, são 50 minutos bem empregues.